Na história da humanidade, existem aqueles que atravessam
todas as épocas e gerações como referência naquilo que fizeram ou produziram,
como ‘companheiros de viagem’, respondendo, por meio de seus escritos, às
indagações que formulamos.
Orador, escritor, filósofo, político da Roma antiga, Cícero é
um desses homens ainda presentes em todas as épocas e gerações, é um desses
homens que nos conseguem dizer, ensinar, prescrever muita coisa, mesmo que
distante dois mil anos. E esse post, embora curto, é dedicado a esse grande
romano e a mais nova tradução de uma de suas obras filosóficas: De
natura deorum.
Organizado em três livros, De natura deorum (A
natureza dos deuses) discute a existência de um poder superior, discute
as relações entre as divindades e os humanos. Na obra, Cícero apresenta
variadas concepções a respeito dos deuses, aquilo que os envolve, a forma
deles. Cícero põe também em confronto correntes do pensamento filosófico
(Epicurismo, Estoicismo, Nova Academia), demonstrando que tais correntes
apresentam correlações, mas, por outro lado, divergem completamente em vários
pontos.
A natureza dos deuses
é o mais recente lançamento da Edufu (Editora da Universidade Federal de
Uberlândia) e integra mais um volume da Coleção
do Estudo Acadêmico, coleção organizada pelo curso de Filosofia da UFU. A
tradução dessa obra filosófica de Cícero é de Bruno Bassetto, professor titular
de Filologia Românica da USP. De Bruno Bassetto há também a tradução das Discussões
Tusculanas, também editada pela Coleção
do Estudo Acadêmico. Abaixo, passagem de A natureza dos deuses:
“Portanto, em primeiro
lugar, ou se deve negar que os deuses existam, o que tanto Demócrito, levando
em conta as representações, como Epicuro, tendo em vista as estátuas, de certo
negam, ou os que concedem existirem deuses, é preciso reconhecer-lhes que eles
façam algo e algo sublime. Contudo, nada é mais sublime que a administração do
mundo: logo, o mundo é administrado pela assembleia dos deuses. Porque, se for
de outro modo, realmente seria necessário haver algo melhor e dotado de força
maior que deus, qualquer que seja sua natureza, seja uma necessidade impelida
por grande força, realizando essas belíssimas obras que contemplamos.”
Primum igitur aut negandum est esse deos, quod et Democritus
simulacra et Epicurus imagines inducens quodam pacto negat, aut qui deos esse
concedant is fatendum est eos aliquid agere idque praeclarum; nihil est autem
praeclarius mundi administratione; deorum igitur consilio administratur. Quod
si aliter est, aliquid profecto sit necesse est melius et maiore vi praeditum
quam deus, quale id cumque est, sive inanima natura sive necessitas vi magna
incitata haec pulcherrima opera efficiens quae videmus (II, 76)
Escrito
por Frederico de Sousa
Ver também a resenha sobre o livro A natureza dos deuses publicada na Revista Primordium
Ver também a resenha sobre o livro A natureza dos deuses publicada na Revista Primordium